LGBTQ+: Suicídio, homicídio e transtornos mentais na comunidade

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O suicídio é um fenômeno social presente ao longo da história da humanidade associado a uma série de fatores psicológicos, culturais, morais, socioambientais, econômicos, entre outros fatores. A depressão é um dos principais determinantes para a tentativa de suicídio e para a ação efetiva tanto entre adolescentes como jovens ( 1 ).

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano, o que representa uma pessoa a cada 40 segundos. O suicídio ocorre em todos os países do mundo, mas 79% das mortes por suicídio em 2016 foram em países em desenvolvimento ( 1 , 2 ). Dados apresentados pelo Ministério da Saúde, em setembro de 2018, mostram que no Brasil os suicídios aumentaram 2,3% em 1 ano, e o país registrou 11.433 mortes por suicídio em 2016 – em média, um caso a cada 46 minutos, sendo considerada, atualmente, a quarta causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos no Brasil ( 3 ). Nos Estados Unidos, por exemplo, a situação é ainda mais agravante, sendo a segunda causa principal de morte para pessoas entre 10 a 34 anos de idade; em 2016 o suicídio foi responsável por quase 45.000 mortes, com aproximadamente uma morte a cada 12 minutos. ( 4 , 5 ).

Infelizmente, os adolescentes que se identificam como gays, lésbicas, bissexuais ou transgêneros correm um risco ainda maior de autoagressão, pois estão em maior risco de transtornos mentais do que as pessoas heterossexuais. ( 6 ). O preconceito e a discriminação criam um ambiente social hostil e estressante que resultam em problemas de saúde mental ( 7 ).

As pessoas lésbicas, gays e bissexuais (LGB) estão sujeitas a preconceitos institucionalizados, estresse social, exclusão social – mesmo dentro das famílias, e ódio e violência anti-homossexualismo muitas vezes internalizam um sentimento de vergonha sobre sua sexualidade ( 67 ). Fatores de estilo de vida, como abuso de álcool e drogas, também aumentam o risco de morbidade ( 6 ), bem como tentativas de suicídio ( 8 ).

Uma análise, publicada na revista científica Pediatrics em 2011, mostra que gays, lésbicas e bissexuais têm aproximadamente seis vezes mais chance de tirar a própria vida, em relação a heterossexuais (21,5% contra 4,2%). Ainda de acordo com a pesquisa, o mesmo público tinha risco 20% maior de suicídio quando convivendo em ambientes hostis à sua orientação sexual, na comparação com meios menos conservadores ( 9 ).

No Brasil ainda não há um estudo amplo produzido sobre a sexualidade, contudo o GGB (Grupo Gay da Bahia) produziu um relatório de Mortes Violentas da População LGBT no Brasil, com dados referentes ao ano de 2018 ( 10 ). Foram registradas 420 mortes – por homicídio ou suicídio decorrente da discriminação – de integrantes da população homoafetiva e transexual. Segundo o relatório, os homens gays foram os mais atingidos, são 39% das vítimas. Transexuais foram a segunda comunidade mais afetada, respondendo por 36% das estatísticas. Logo depois vêm as mulheres lésbicas (12%) e bissexuais (2%). Ainda de acordo com o relatório, a cada 20 horas um LGBT é barbaramente assassinado ou se suicida vítima da LGBTfobia, o que confirma o Brasil como campeão mundial de crimes contra as minorias sexuais.

Segundo agências internacionais de direitos humanos, matam-se muito mais homossexuais e transexuais no Brasil do que nos 13 países do Oriente e África onde há pena de morte contra os LGBT ( 10 ). Ademais, é bem provável que o número de mortes sejam ainda maiores, devido ao fato de não serem estatísticas oficiais contabilizadas adequadamente pelos órgãos de segurança pública ( 11 ), e também, se nos basearmos nas pesquisas mencionadas neste artigo.


Apesar das fortes indicações de risco elevado de comportamento suicida em lésbicas, gays, bissexuais e transexuais, em todo o mundo, pouca atenção tem sido dada às pesquisas, intervenções ou programas de prevenção do suicídio direcionados a essas populações. Esperamos que com essa publicação possa estimular o desenvolvimento das necessárias estratégias de prevenção, intervenções e mudanças políticas, afinal, já se passaram 49 anos desde a revolta de Stonewall, um momento na história em que a comunidade LGBTQ+ lutou contra a brutalidade policial e a opressão legal. Este ano marca o 50º aniversário dos motins de Stonewall ( 12 ). Hoje, muitos eventos são realizados em cidades do mundo todo como um testemunho dos esforços contínuos das comunidades LGBTQ+ contra a opressão e a intolerância. Embora tenha havido progresso, a homofobia e a transfobia ainda são um problema sistêmico em todo o mundo.

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